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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Chama Alada - Capítulo 2: Guitarra














2- Guitarra
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“Às vezes nós deixamos nossos sonhos sobrepujarem a nós mesmos, e tudo certo, eles também fazem parte de nós. Mas deixar que eles nos façam deixar coisas importantes em prol deles é decisão nossa. E é uma decisão errônea.”

Vinícius acorda e, indo ao banheiro, derruba o celular, que estava a seu lado na cama, no chão.
Vini: _ Você... é um celular muito, muito malvado.
A mãe vem chamá-lo no quarto.
_ Filho, você poderia me emprestar uns 20 reais?
Vini saindo do banheiro após a higiene: _ Mamãe, eu mal comecei a trabalhar.
_ Mas filho, são 50 reais por dia.
Vini: _ E três vezes por semana. E o meu primeiro... salário... você já quer gastar?
_ Não, meu filho... _ ia falar algo, mas deixa pra lá e sai.
Vini, pensando na frase que disse, nem percebe que ela deixou de dizer algo.

“Dona Suzana é uma pessoa interessante. A melhor mãe do mundo, uma coisa clichê. Ela lava, passa,trabalha fora de doméstica de casa chique e faz isso tudo muito bem. Mas ela também, às vezes, pode ser desmazelada, deixando passar coisas importantes por pura distração.”

Vinícius termina de se vestir e vai até a cozinha fazer seu desjejum.
O pai chegando nele: _ Filho, você já andou vendo as guitarras?
Vini: _ Não. Vou hoje.
_ Como foi o serviço ontem?
Vini, lembrando da briga: _ Interessante.
_ Interessante?
Vini: _ Foi normal, pai, só normal. _ “Há muitas definições de normal”.

“O meu pai, Damien, é um cara legal. Cara, no sentido jovial da palavra. Alguém com quem eu posso conversar. Alguém que pode mudar de idéia e não ter autoridade pra ser um pai exemplar. Mas eu sou o tipo de filho que dá essa autoridade a um pai desmerecedor.”

Damien gritando quando a campainha toca: _ Atende!
Vini atende e uma moça vai entrando.

“A apresentação de personagens estava demorando a acabar. Mas aqui ela termina, com Joanna, que vocês vão poder ver como é.”

Vini: _ Joanna.
Joanna: _ O que é? Esperava que eu batesse na porta?
Vini: _ Você tocou a campainha.
Joanna: _ Mesmo? _ ela havia esquecido, mas até ela se surpreendeu de ter feito isso _ Isso deve significar que seu pai está em casa e eu vi e sei que não dá pra fazer sexo.
Vini: _ Joanna, pára, eles vão acabar acreditando nessa sua loucura.
Joanna: _ Uma vizinha tentadoramente sexy pode sonhar, não pode?
Vini: _ Alguma coisa especial te traz aqui?
Joanna: _ As pernas. Muito especiais. _ levanta a saia.
Vini: _ Você não tem mais o que fazer? Existem outros vizinhos.
Damien chegando na sala: _ Fode ela logo.
Vini: _ Pai!
Joanna: _ Eu tenho minhas suspeitas de que você seja gay. _ para Vini
Vini: _ Não.
Joanna já mudando de assunto: _ Mas, então, Vini, será que você hoje podia me levar no seu trabalho pra gente curtir? Você nunca sai.
Vini surpreso: _ Joanna! É meu emprego. Tra-ba-lho. Eu simplesmente não posso...
Damien: _ Ele te leva, mas você se comporta. _ e para o filho, sem deixar que ela ouça: _ Use camisinha. _ “Será que alguns pais não percebem que às vezes tentar ser moderno faz deles assustadores?”
Joanna: _ Te pego à noite, talvez em mais de um sentido. _ ele ia falar algo, mas ela sai sem deixar Vini responder.
Vinícius vai para seu quarto, troca de roupa e sai.

“Joanna nunca teve nada comigo, devo informar.”

Chegando na loja de instrumentos musicais, Vini encontra uma linda guitarra vermelha.
Vendedor: _ Oi, meu nome é Márcio, você estaria interessado em algum instrumento?
Vini: _ Todos, pra falar a verdade. A guitarra vermelha principalmente.
Vendedor: _ Toca ela. Pra você ver como ela é.
Vini pegou cuidadosamente a guitarra e a tocou. O som suave porém intenso preencheu o ambiente.
Vini: _ Demais. Quanto custa?
_ 200 reais à vista, e não dividimos.
Vini embasbacado: _Uau, eu... preciso pensar. Aliás, eu preciso ir. Mas eu volto. _ sai deixando o vendedor Márcio com a mesma cara que ele ficou quando ouviu o preço do instrumento.

“Eu amo tocar guitarra. Meu sonho é formar uma banda mas no instante seria uma banda de um homem só. O preço alto de um sonho distante. Mas talvez eu pudesse... afinal... ta certo, eu tenho que ajudar meus pais. Mas eles precisam mesmo? Eles sempre sustentaram a família sem mim, e o dinheiro era meu, do meu trabalho. É um pensamento egoísta. Mas nada de ruin iria acontecer, afinal seriam só alguns salários, depois eu os ajudaria.”

À noite, Joanna fica colada a Vini no ônibus, ambos de pé no ônibus lotado. Ela o abraça.
Vini: _ Não ta tão lotado assim, Jô.
Jô: _ Me chama de Jô e eu te chamo de Vi, que lindo! Mas, sério, eu tenho medo de lotação.
“Medo de agarrar o vizinho em público ela não tem.”
Vini chega e tenta se livrar dela indo até Fabrício: _ E aí, Fabrício, tudo certo?
Fabrício andando levanto copos vazios até o balcão: _ Cuidado ou serão dois dias em que você me fez derrubar coisas.
Vini o segue resignado: _ Posso te ajudar.
Fabrício: _ Você quer trocar o meu emprego pelo seu?
“Não. Atender mesas. Jamais!”
Joanna se botando entre os dois: _ Me apresenta o seu amigo e/ou parceiro sexual, Vi!!!
Vini: _ Desde que ela passou a comer os remédios da avó, ela é essa coisa. _ explicando a Fabrício.
Fabrício: _ Ta, só faz o seu serviço. Vai lá. Mas deixa o seu _ olha bem ela, silencioso, ela não pára um instante: _ Bicho de estimação porta afora.
Vini: _ Fica aqui, divirta-se Joanna.
Ele entra.
Joanna para Fabrício: _ Você e ele já se conheciam?
Fabrício: _ Não. E você e ele?
Joanna: _ Claro, ele é meu vizinho.
Fabrício: _ O mal de se viver nas cidades, vizinhos. Então, você é vizinha dele há tempos?
Joanna: _ Pare de ser cítrico!
Fabrício: _ Eu não sou cítrico, alcoolizado talvez. Deseja alguma coisa, senhorita?
Ela se senta numa mesa por perto: _ Pede ao Vini um chop.
Ele sai.
Fabrício para Vini, já trabalhando: _ Ela é um saco.
Vini: _ Você não viu nada.
Mel a olha, olha os dois: _ Vocês dois, comportem-se!
Vini entrega a ele o chop dela.
Vini para Mel: _ O Fabrício te olha de um jeito...
Mel: _ Ele e eu já... tivemos algo.
Vini: _ Ah, que bom que isso acontece por aqui! _ se arrepende. _ Não que vá acontecer comigo. Mas...
Mel percebe o nervosismo dele: _ Você precisa de autoconfiança. E eu acho que sei quem tem isso de sobra pra você. _ olha Joanna.
Vini: _ Ela é doida.
Mel: _ Exatamente.
Vini: _ O que você está dizendo? Que só uma doida ia me querer?
Mel: _ você que interpretou isso. Uma doida para te fazer enlouquecer um pouquinho... e ficar normal.
Vini atende alguém.
Mais tarde, Joanna estava bêbada.
Vini: _ Fabrício, fica no meu lugar também, me cobre, por favor!
Fabrício a olha e entende: _ Vai lá. _ e Vini vai levar Joanna pra casa.
Ônibus ( vazio dessa vez). Ela dorme recostada nele. Ele se senta no banco de trás.
Um estranho rapaz de cabelos longos loiros chega nele. _ Oi!
Vini: _ Oi!
_ É... eu vi você tocando no Rufus hoje.
Vini: _ Rufus?
_ É, tocando guitarra.
Vini: _ Ah.
_ Você toca bem. Eu fiquei meio impressionado. Eu gostaria que você tocasse com minha turma na garagem da minha casa. A gente precisa de alguém como você. É só uma vez... prometo.
Vini: _ Mas... eu não sei se eu estou à altura. Eu nunca toquei com ninguém.
_ E você nem me conhece. Mas a gente pode tentar. Aparece por lá. Eu vou anotar o endereço. _ tira um pedaço de papel de um caderno dentro de uma mochila e uma caneta e anota. _ Aparece lá amanhã à tarde. Eu tenho um dever de biologia e depois a gente vai tocar.
Vini: _ Eu vou ver se apareço. Ainda bem que não é matemática.
_ É. Você ainda estuda? Quer dizer, quantos anos...?
Vini: _ Eu tenho 18, acabei de acabar.
Ele se senta ao lado de Vini e conversam a viagem inteira sobre matérias de escola. Vini fica sabendo que o nome dele é Aleph.
Chegando em casa, Vini ouve uma conversa entre sua mãe e seu pai, endividados.

“Eu nem percebi isso. Como pude ser tão insensível! Tentando realizar meu sonho, eu bloqueei até os pedidos de socorro em olhares e comportamentos de meus pais. Eu bloqueei qualquer coisa, mesmo que eu não quisesse, que me impedisse de comprar a guitarra. Não devia ser assim. Eu não queria ficar cego pelo meu sonho. Ficar cego de egoísmo desmedido. Egoísmo escondido por trás de camadas de “sonhar é certo”. Mas isso não vai se repetir”.

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