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terça-feira, 3 de abril de 2012

Minorias na TV


Vou falar sobre o retrato dos gays na TV, mas isso vale para o retrato de qualquer minoria. Só que eu me sinto mais capaz de falar sobre essa em específico. Não que as outras sejam melhor retratadas, longe disso. Cegos, cadeirantes, portadores de down, até mesmo negros e mulheres, não são retratados como deveriam. Mas vamos nos ater ao tema principal.

Retratar gays na TV esbarra em muitos “problemas”, o maior deles é o funcionamento da TV. A TV precisa de audiência, pessoas vendo o que está passando. Portanto TV é feita para as maiorias, e gays sempre serão minoria. Muita gente não os quer ver. Isso não é ignorância, como se pode crer. É uma questão de sociedade, de cultura. Ainda, infelizmente, todos são criados para não aceitarem certas coisas, e gays são uma delas. Então mostrar gays na TV pode significar perda de audiência e, consequentemente dinheiro.
Claro, há que se levar em conta que gays também fazem parte do mercado e querem se ver retratados na TV. Ultimamente tem havido um esforço para colocar personagens gays nas novelas brasileiras e séries americanas. Mas isso parece mais um esforço para atrair a audiência gay do que propriamente respeito. Isso fica claro na qualidade desses personagens (mais adiante). O fato é que os gays deveriam boicotar a TV. Mas a maioria dos gays não militam em momento algum.

Com qualidade dos gays, há uma infinidade de coisas a serem citadas. Primeiramente a dessexualização. Embora hoje em dia tudo tenha sexo na mídia, antigamente os gays eram eunucos assexuados destinados a fazer rir. E, acredite, pouco mudou. Mesmo que o que torna um gay essencialmente gay seja o aspecto sexual. Queer as Folk, série gay da TV a cabo americana foi um marco nesse quesito, mostrando os gays sem tirá-los de sua identidade sexual. Mas aquilo era cabo, era EUA e raramente foi repetido desde então.
Outro aspecto a ser notado são os estereótipos. O mundo hétero criou suas próprias imagens do mundo gay como um todo e geralmente só elas aparecem na mídia. São seres que idolatram as mulheres, se vestem espalhafatosamente e tem a voz fina. Não criticando os afeminados, por que eles existem e todo tipo de pessoas tem o direito a ser respeitadas. Mas até pouco tempo atrás só o que se via do mundo homossexual na TV era nesse sentido. E hoje em dia ainda é a maioria do que se vê.

Mas o que mais é repreensível no retrato de gays na ficção é a diferença de abordagem em relação aos héteros. Primeiramente, os gays costumam ser personagens bastante secundários. Depois, acabam sendo censurados. E não podem demonstrar afeição um pelo outro, se tornando personagens muito inferiorizados em relação aos personagens heteros que demonstram afeição o tempo todo (às vezes de maneira escandalosa). Isso reforça a imagem de que é algo errado que não pode nem ser mostrado.

Além do mais, gays não tem trama nas novelas brasileiras, por exemplo. Ou a trama deles é que eles estão pegando mulheres. Ou eles estão lutando pra se aceitar. Gays bem resolvidos não são aceitos na TV. E muitas vezes há uma clara linha que separa personagens gays de personagens heterossexuais. Geralmente os personagens gays são usados para alívio cômico, quase nunca para o drama. E nem parece haver esforço para transformar esses seres em personagens, já que geralmente eles são os mais unilateriais da obra, sem personalidade e sem tempo de tela.

Existe uma explicação dada pelos “conservadores (da boca pra fora) da família brasileira” que são a audiência da TV. Essa explicação seria a de que há crianças na frente da TV que não deveriam ver, digamos, dois homens ou duas mulheres se beijando. Isso é um absurdo, nada menos do que isso. Essas pessoas deveriam estar mais preocupadas em fazer dessas crianças adultos tolerantes, que aceitam as diferenças e sabem que qualquer sexualidade é natural. Ao contrário, correm o risco de criar futuros espancadores de gays. Ou enrustidos que, casados, traem a esposa com outros homens. Criando, assim, um futuro pior para a humanidade. Não seria melhor se as pessoas aprendessem desde cedo a respeitar os outros e aceitar? Fazer com que esses futuros adultos sejam melhores do que você próprio? Não deveria ser esse o desejo de todos os pais, ao invés de preocupações sem sentido e totalmente hipócritas?

*Alguns exemplos de boa representação gay:
  1. Christian & Oliver (Verbotene Liebe): O mais romântico de todos os casais gays, e o mais completo também. Infelizmente, perde pontos comigo pela irrealista e estúpida sexualidade confusa de Christian. Chrolli/Ollian.
  2. Kevin Walker (Brothers and Sisters): Um gay completo, com direito a beijos e tramas, além de uma personalidade. Isso tudo numa série hétero e com uma moral firme. Na TV aberta americana.
  3. Brian Kinney (Queer as Folk): Um gay que não dá desculpas para as coisas que faz, não pede desculpa por ser gay. Os outros personagens de QaF seguem o mesmo rumo.
  4. Calvin Owens (Greek): Além de gay, é negro e não tem nenhum problema com sua sexualidade.
  5. Os cowboys de Brokeback Mountain: Mostrando um amor gay com muitas nuances.
  6. Shelter: Reforçando que um casal gay também é uma família.
  7. Ian Gallagher (Shameless): Ele é bem jovem. Determinado. Aceito.
  8. Andrew (Desperate Housewives): Não só é gay, como é um bad boy que chega até mesmo a usar sua condição sexual para atacar a mãe.
  9. Roni (Insensato Coração): Poderia colocar alguns personagens nessa vaga da lista, mas escolhi o Roni. A vaga dos personagens gays afetados que não são usados como alívio cômico. Rony foi afeminado, foi engraçado às vezes, mas ele era um personagem. E, principalmente, mesmo sendo gy, ele não foi só bonzinho, já que ele participava das armações da Natalie. Aliás, foi o único dos gays de IS que, não sendo totalmente bonzinho, não se diferiu muito de todos os outros personagens da novela, que tinham coisas boas e coisas ruins.
  10. Harvey Milk (Milk) Por que foi protagonizado por um dos grandes atores (Sean Penn) e isso é algo muito bom. E por que foi em um filme oscarizado.
  11. Vic e Rodney (QaF): Ótimo ver um casal de idosos, ainda mais que um deles é HIV+.
  12. Saul (Brothers & Sisters): Outro gay de idade que ganhou um par.
Menções:
  1. Eduardo e Hugo (América): Meu casal brasileiro favorito. Eles eram tão lindos juntos, tinham tanta química! E uma relação tão saudável. Só faltou o beijo gay.
  2. Thales e Julinho(Ti-Ti-Ti!): Esses eu considero perfeitos, por que mesmo que não tenha tido o beijo gay, eles demonstraram afeto um pelo outro e teve um "eu te amo" lindo.
  3. Júnior e Zeca (América): Por que a Glória Perez fez tudo com muita sensibilidade. Apesar das coisas todas andarem muuuuuuito devagar naquela novela.
  4. Seu Ladir (Toma Lá, Dá Cá): Mesmo que a afetação dele tenha sido usada para fazer graça, bem foi bom por que TLDC era uma série de comédia então ele não foi excessão. E mesmo que ele fosse casado com Dona Álvara, sua homossexualidade era óbvia. Coloco ele aqui por sua idade, por que é raro um gay ter essa idade na TV brasileira.
Essa é uma questão bem complicada, eu tinha muito mais coisa pra falar, mas quando fui escrever essas coisas simplesmente sumiram da minha cabeça. Talvez algum dia elas voltem. kkkk Desculpe!

P.S.: Há algo também a ser dito quanto a quem interpreta os gays. Geralmente são atores pouco conhecidos, no Brasil raramente atores consagrados fazem papéis gays (só em filmes). A manipuladora Globo tem um medo irracional de que seus galãs fiquem estigmatizados como gays. Inclusive há infinitos boatos na rede de que há muitos atores gays enrustidos no Brasil. Eu tenho certeza de que sim, por que é o que a probabilidade indica. Nos EUA existem muitos atores gays fora-do-armário, é uma coisa normal, e se isso interfere na carreira deles, é muito pouco.

2 comentários:

  1. Bravo! Bravo Bravíssimo! Clap, clap, clap! (isso foi uma onomatopéia)
    Também percebo isso na televisão brasileira. Em vários países os beijos gays jah apareceram, nas novelas, filmes. Essa intolerância é irracional.
    A tv brasileira realmente só faz confirmar o estereótipo de "bichinha bafoneira e engraçada", com o perdão dos pejorativos. E, de certa forma, isso acaba por perpetuar o preconceito de alguns, acho eu.
    Só não concordo com o termo "ser aceito". Prefiro o termo "ser compreendido". O princípio da aceitação parte do pressuposto de que existe um grupo melhor do que outro, que deve abraçar as minorias. O ideal seria o tratamento igualitário. O entendimento.

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  2. Eu não prefiro termo nenhum, simplesmente não acho um termo que fite no conceito que quero passar.
    Empatia é uma boa palavra.

    Eu acho que o problema desses estereótipos é que, como o objetivo deles é fazer rir e evitar qualquer coisa que os idiotas-alvo considerem chocante, cortam exatamente o que faz um gay ser um gay, que é ele gostar de homens de uma maneira sexual.

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