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sexta-feira, 13 de julho de 2012

A Hipocrisia do Povo Brasileiro

Eu tive a idéia para essa postagem ao ver exemplos óbvios de como o povo tem um moralismo exacerbado, que acaba fazendo com que deixem até mesmo de notar coisas básicas. E o único motivo que posso pensar para esse comportamento é que as pessoas gostam de acreditar que estão certas, para isso elas tem que acreditar que são boas pessoas, e para isso elas criam padrões morais ridiculamente altos e irreais. Mais do que isso, o baixo nível de instrução da população geral faz com que as pessoas não tenham a capacidade de pensamento em um nível profundo, colocando a culpa das mazelas sociais em locais que, embora óbvios, não são os reais. Eu só posso dar exemplos, já que foram esses exemplos que me levaram a essa reflexão. Mas os meus exemplos são apenas uma amostra. Eu prefiro que as pessoas tomem eles como base e façam suas próprias reflexões a respeito desse assunto.
E o primeiro lugar onde eu vi um uso indevido de moral exacerbada é com relação às novelas das 21hs. Eu já li comentários hediondos sobre como determinada novela é ruim simplesmente por mostrar personagens com padrões éticos baixos. Pior do que isso, culpam essas obras pelos defeitos na sociedade. O que é um completo absurdo. Até por que a novela das 21 é para adultos, até a classificação indicativa dela diz isso. E se supõe que adultos saibam o que é certo e errado e não sejam influenciados por uma simples novela. Mais do isso, a novela mostra a realidade e infelizmente a realidade é essa às vezes. Mais do que isso ainda, obras dramáticas dependem de conflitos, mesmo que irreais. E o que importa é a qualidade do drama. Ninguém deveria se importar com ideais éticos na ficção. Isso equivale a uma censura. E uma desnecessária, que pode fazer com que as obras fiquem muito mais sem-graça. Eu entendo as obras escapistas, que mostram um mundo perfeito, onde queríamos estar. Mas uma obra escapista pode ser uma obra cheia de coisas terríveis também, que permite que vivamos as experiências sem precisar passar por experiências ruins. Mais ou menos como um filme de terror. Na verdade uma obra com maldades pode fazer mais bem do que mal. Todos tem impulsos ruins e poder dar vazão a eles através de um personagem ao invés de na vida real é uma coisa boa. É a mesma coisa com as críticas aos games violentos que, antes de promover a violência, permitem que descontemos nossa raiva guardada num ambiente virtual e não em alguém, do mesmo modo que num ambiente controlado praticando boxe ou karatê. E, devo dizer, algumas pessoas realmente precisam dar vazão a esses sentimentos, por que essas pessoas são por natureza predispostas a ter emoções ruins. Mas fugi do assunto, que é o ridículo de querer censurar uma obra para adultos e culpá-la por coisas além de sua capacidade.

Outras coisas absurdas que eu já li diziam que “a Globo está tentando tornar a homossexualidade uma coisa normal”. Mais ou menos com esse teor, como se tal fato já não fosse normal. Ter homossexuais bem representados nas novelas não traz mal nenhum, e traz benefícios. Ninguém vai se tornar homossexual ao ver uma novela, por que a sexualidade é muito, mas muito mais complicada do que isso. Ficção nunca tornou ninguém hetero ou gay. Depois, a novela não vai ser a única fonte de conhecimento de mundo que uma pessoa vai ter. Da mesma maneira que ter pais gays não tem nenhum problema, principalmente por que eles não vão ser a única fonte de conhecimento de mundo que a criança vai ter. E os benefícios são de tornar a sociedade mais tolerante e dar uma vida mais digna a esse grupo de pessoas. Na verdade, nesse mesmo blog tem um post sobre isso (Minorias na TV).
Eu preciso ainda afirmar que a ética religiosa não é ética. No meu post sobre a falsidade das religiões há muitos links úteis que, inclusive falam sobre isso. A ética religiosa é baseada em medo. E isso não é uma moral verdadeira. É antes uma moral de coerção. E ao contrário do que muitos pensam, nossa moral não é tirada de livros sagrados, ela é A DESPEITO dos livros sagrados. Tanto é que nós escolhemos as partes cabíveis e as absurdas para seguir. Escolhemos com base em preceitos morais nossos, fora dessas ‘leis sagradas’. É a prova de que somos morais e a prova de que somos mais morais do que os livros sagrados.
Ah, e preciso também comentar que a classificação TEM QUE SER indicativa. Do contrário, se torna censura. Não é o estado que decide o que vamos ver. Somos nós que temos que escolher. Do contrário não seria liberdade. O máximo que o estado pode fazer é nos dar o direito de saber que tipo de conteúdo há em determinada obra audio/visual. Isso é a classificação indicativa.
Eu já li, também ridiculamente absurdo, que a novela das 21 horas é imprópria para os pais assistirem com seus filhos. A ideia de mudar de canal deve ser inóspita a essas mentes, mas relevemos. É mesmo. Essas pessoas não devem ter visto a classificação indicativa dessas novelas. Eu me recuso a acreditar que essas pessoas desejem que a TV brasileira exiba apenas programas para crianças, ou seja, com nível infantil, com uma amostragem irrealista da sociedade e dramas rasos. Na verdade, me parece que essas pessoas estão tentando a todo custo se livrar da responsabilidade de ter que cuidar dos próprios filhos, jogando ela em qualquer outro lugar. Não é o estado que tem que decidir o que seus filhos podem ver. São os pais que tem que tomar essa decisão e são os pais que tem que ter autoridade para fazer os filhos obedecerem.
Indo um pouco off-topic, me veio à mente o modo como alguns pais jogam para cima das escolas a responsabilidade de educar os filhos. E eu acho importante lembrar que a educação que a escola tem que passar é a educação mental. Claro que convivência social se torna aprendizado também, assim como qualquer coisa na vida que envolva o lado social. Mas os pais ainda tem o maior ônus no aprendizado moral, por ser aqueles que estão sempre presentes para serem, antes de tudo, modelos.
E me veio outra coisa à mente, que é como eu acho que o problema do bullying vai crescer e se tornar cada vez mais insuportável. Eu tenho a opinião de que a própria existência do conceito de bullying agravou o problema, já que os pais agora colocam a culpa de tudo no bullying e, consequentemente, estão criando pessoas muito mais frágeis. As pessoas deveriam ser criadas para ignorar o que os outros pensam delas e se amar incondicionalmente e não achar que uma crítica maldosa é o fim do mundo. Há que se ter cuidado com isso, uma hipersensibilização das crianças.

3 comentários:

  1. Nossa... vc tocou em pontos muito interessantes nessa postagem. Mas podemos resumir elas todas como causadas por uma única mazela social: A hipocrisia. É ela que deturpa tudo. Queremos ser "bem vistos" pela sociedade que nos cerca, e escondemos para fora do tapete o lixo que nos constitui. Sim, tb somos feitos de lixo. São nossos defeitos, de seres humanos. E negá-los é ir contra o conceito de crescimento, tese/antítese=síntese.

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  2. Me explica esse conceito de crescimento, essa coisa de tese/antítese=síntese.

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  3. Primeiro, uma ressalva: quiz dizer "varrer pra baixo do tapete" e não "pra fora". Sinapses defeituosas aqui. E o conceito de síntese, que um desses malucos inteligentérrimos que existiram a alguns anos atrás formulou, diz assim. Que primeiro surge uma tese sobre algo. Alguém estuda algo e cria tópicos a respeito disso. Depois vem alguem, negando essas idéias, o que é a antítese. Depois, apontando seus defeitos, e talvez, fazendo possíveis reformulações e correções, surge a síntese. Assim devíamos agir, com nossas psiquès, a meu ver.

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