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domingo, 25 de fevereiro de 2018

Pabllo e os "Defensores da Boa Música"

Navegando no Facebook, é fácil encontrar algum post atacando a cantora Pabllo Vittar, dizendo que não faz música boa, que é um lixo e outros termos exagerados, o quão mais desrespeitoso melhor. E decidi fazer essa postagem pra explicar minha posição de que isso não advém de zelo musical, mas puramente de homofobia. Às vezes até tentam disfarçar e colocam alguém junto, como Jojo Toddynho, por exemplo, pra fingir que o alvo principal não é apenas a Pabllo. Do meu ponto de vista, esses ataques não tem nada a ver com a música que ela faz, são puramente por ser uma drag queen cantando. Acho que alguns até acreditam que estão criticando ela apenas pela música. Mas fica evidente pelo fato de ela ser a mais criticada que existe um caso de dois pesos e duas medidas, que deixa claro uma visão bitolada da música dela. Existiram vários cantores ruins, músicas ruins, letras ruins, e qualquer combinação de fatores musicais ruins, mas nunca vi ninguém ser tão atacado. Inclusive já houveram terríveis músicas de funk que não são apenas ruins, mas ofensivas, e elas não receberam esse nível de escrutínio. A verdade é que sobre a Pabllo colocam uma lente e analisam tudo dela com muito mais apuro e cuidado do que fazem com outros artistas. Existem muitas músicas sertanejas universitárias que se pode dizer serem ruins, mas nem por isso vejo críticas. Ninguém criticou "Segura o tchan" ou que "o Gleydison rodrigues dá beijinho nas meninas" ou que "ele senta, eu sei que senta", por quê algo que tem letras, não fica repetindo um refrão de quatro frases e não ofende ninguém, por quê logo isso é criticado, quando coisas bem piores não o foram? Não que eu queira que mais pessoas sejam criticadas. Estou falando isso só para demonstrar os dois pesos de que falei. A diferença, como já disse, é que Pabllo é uma drag queen, fato esse que não tem nada a ver com as músicas ou a musicalidade dela. E qual a desculpa que usam para tecer suas críticas? A de que a música dela não tem qualidade. Bom, eu particularmente discordo de que seja totalmente desprovida de qualidade, como eu disse tem coisas bem piores. Claro que o fato de ter coisas piores não torna a música da Pabllo automaticamente melhor, só denota uma perseguição bem específica por parte dos "haters". Mas quanto à qualidade, acredito que não tem tanta importância quanto as pessoas querem apontar. Por que gosto pessoal e qualidade são duas coisas diferentes. Devido a isso, existe o termo em inglês "guilty pleasure" ou prazer culpado, que, ao contrário do nome, não diz respeito a algo de que se tem vergonha de gostar, mas sim de algo que você sabe que não é de boa qualidade mas gosta mesmo assim. Existem músicas de qualidade das quais eu não gosto, músicas ruins de que gosto e músicas boas de que gosto. Agora sou obrigado a só ouvir as músicas boas das quais coincidentemente também gosto? Não, eu quero ouvir as ruins também, pois se eu gosto delas, oras! O que determina se uma pessoa gosta ou não de uma música não é sua qualidade, mas o quanto aquela música combina com o gosto pessoal da pessoa. E apenas às vezes qualidade e gosto pessoal coincidem. Acredito que todos tem músicas ruins de que gostam. E mesmo que não tenham, isso não faz delas melhores do que as outras pessoas. Pode fazer o gosto delas melhor, mas não dá a elas o direito de ser tão condescendentes. Os posts que vejo no Facebook não são nada lisonjeiros a quem posta. Demonstram muita arrogância e prepotência, pois neles as pessoas demonstram achar que são superiores aos outros, que elas sabem diferenciar música boa de música ruim e os outros não. O que não é necessariamente verdade. A verdade pode ser, simplesmente, que as pessoas diferenciam e não se importam, por que a verdade é que não importa mesmo. Às vezes você quer ouvir música pra se sentir bem e pra isso não é a qualidade que importa, mas o gosto pessoal. Agora vou explicar por que acho que não é simples preconceito mas homofobia que move essas pessoas. Preconceito indica algo movido a desconhecimento. Não acho que isso se aplica. A Pabllo é um homem gay que tem como profissão ser uma drag queen cantora. Podia ser um homem heterossexual, é verdade. Mas as pessoas conectam homem vestido de mulher com o mundo gay. Isso vem de ignorância. Mais que isso, ignorância deliberada, que é quando uma pessoa escolhe não saber de uma coisa para poder ter negação plausível, poder ser homofóbica ou misógina ou racista e ter a desculpa de não saber. Bem, ela escolheu não saber, então ela escolheu ser intolerante. Okay, estamos falando de uma ignorância, mas o que importa aqui não é que liguem uma drag queen ao universo gay, mas que através dessa ligação tenham intolerância às pessoas do espectro LGBTQA. Isso é ser homofóbico. Não é preconceito por que não é um desconhecimento que leva à intolerância, a um escrutínio exagerado e a ter medidas diferentes de qualidade e quantidades diferentes de crítica entre os outros cantores e a Pabllo. É o fato de ela estar ligada ao universo gay. Não é um mal entendido. É homofobia mesmo. Talvez (mal) disfarçada, mas homofobia mesmo assim. Nem adianta querer vir citar outros cantores gays de sucesso como Cazuza e Ney Matogrosso. Eles não eram uma subversão tão grande quanto Pabllo. Podia-se ver eles cantando sem necessariamente associá-los ao mundo gay, o que não é possível com Pabllo, uma drag queen. Ainda dizem que a TV, a mídia ou a Globo estão incutindo isso na cabeça dos jovens. Os jovens, essas pobres vítimas inocentes e influenciáveis que não sabem do que gostam ou o que querem. Aí se nota novamente a condescendência. E não apenas com os jovens. Querem dizer que todas as outras pessoas que vêem TV são facilmente influenciáveis, mas elas não. Elas são melhores que isso. Todos gostam do que a TV mostra por que a TV mostra, mas elas não. São as únicas que tem um gosto pessoal independente. Quem gosta de Pabllo só pode ser alguém influenciado pela mídia, então pessoas que não sabem diferenciar música de qualidade ou que tem gosto musical duvidoso. Ao contrário delas, que são o estandarte com o qual se mede o que é audição musical e bom gosto. É uma pena que tal bom gosto, caso exista, só serve para essas pessoas atacarem outras pessoas. A verdade na verdade é o oposto. Por que as pessoas ouvem algo como Pabllo, a TV tem que mostrá-la. Para se manter relevante. É o caso da demanda forçando uma oferta. As pessoas querem Pabllo, e por isso ela tem que ser oferecida. A TV não ia colocar ela lá se não desse audiência e repercussão, coisas que movem a mídia. Portanto, essa visão de que a TV está tentando influenciar as pessoas simplesmente por colocar um artista lá que está fazendo sucesso é não apenas fruto de intolerância, mas também estupidez e/ou ignorância. E demonstra também os pesos e medidas diferentes a que Pabllo é sujeita. Nunca vi dizerem isso de outros artistas de sucesso que aparecem em programas de TV.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

A Raiva

Ela me atinge de dentro pra fora
Querendo ser liberta,
Ela me encontraria problemas
Então fortaleço a gaiola com culpa precoce

Ela deseja o sangue de outros
Culpando-os pela minha situação
Ela é feita de inveja e ódio
Ela é magnificente

Eu sou o único oponente dela
E sou o único amigo dela
Eu a segurei e a beijei
E lamento minha perda momentânea de controle

O abraço dela é quente e fofo
É cheio de ódio aquecido
Pintado com as palavras das minhas lágrimas
Eu a toco com minha alma

Por causa dela minha mente se enche
de sonhos de surras em massa e violência gratuita
do desejo inexcusável de machucar
Como se todo o resto que não é eu fosse culpado

Culpando a vida, o mundo, tudo
Tudo é culpado
Tudo deve morrer
Para que a paz possa ser alcançada

Ao invés disso, a paz me escapa
Ela toma o lugar da paz
Se colocando impetuosa no meu centro
Me olhando nos olhos através das barras que coloquei

Às vezes é como se
Tudo que há de mim é ela
Um sentimento que não consigo expurgar
Algo que se tornou eu

Enquanto coloco culpa e falta e desespero
Aos pés de tudo que me rodeia
É tudo sob comando dela
Apesar de eu poder me controlar, ainda sinto

Ela procura meios para ser manifesta
Fazendo de si uma porta para minha escuridão
Areia movediça para o pior em mim
Me imploro para não cair na armadilha

Ela fala de autocomiseração
A voz doce dela prega retribuição
Ela é irracional, feita de espinhos
Espinhos e fogo e perda e beleza

Ela sente tão certa
Como se os feitos dela fossem cumprir a justiça
E ainda eu vejo a verdadeira face dela
Eu sinto cheiro da carnificina

Os gritos da minha prisioneira me abalam
A angústia dela me faz triste
Sou convertido em triste e solitário
E ela é a única a estar aqui

Ela é pregadora de ódio indiscriminado
Professora de todas coisas erradas
E destruidora de mundos, E mesmo assim
Ela é a única que me entende.