Enquanto olho para a escuridão, um estado de contemplação diabólico me toma
O vidro se turva à minha frente, mil luzes se filtrando neles
Por um segundo, espero em vão que uma se choque e estilhace o vidro comigo junto
O presente me acomete, olho em volta, para olhos desatentos
Sinto como se o metal à minha volta pudesse se torcer em volta de mim
Tiras de ferrugem preto me sufocam dentro do pesadelo que se tornou minha mente
Espero me focar e ser eu mesmo antes que o segundo de reflexão acabe
Mas antes que ele acabe eu quero que eu acabe
A vã esperança, do lado de fora, passa paralela
Temendo pela minha sanidade, aperto o tecido do banco
Como se algo terrível fosse acontecer
Como se esse algo terrível fosse acabar com tudo, para minha paz
Mas minha existência continua, acompanhada pelo barulho de metal girando
E as muitas existências a meu redor exaltam a culpa pelo meu pensar
A culpa por eu esperar, mesmo que por um segundo, que acabem só para que eu possa acabar também
Sem querer, me permito por um segundo sentir o alívio do fim
A escuridão da minha imaginação me levar para as farpas invadindo meu coração
Do tamanho e densidade de facas
Eu vejo meus problemas se esvaindo
Eu sinto o frescor de não me preocupar com o futuro
De não pensar no presente
Meu presente, nesse ínfimo instante, é não existir
Mas eu existo, e isso acaba, e eu persisto
E a culpa é o vidro se estilhaçando e me perfurando
Não tenho orgulho do meu segundo anterior
Tenho medo de minha antecipação
Espero nunca mais sentir isso, mas sei que vai acontecer
E eu choro por que minha existência me leva a isso
Eu choro por dentro por que meus motivos são egoístas
Eu paro por que preciso continuar.
Achei pesadíssimo. Senti um eu lírico passional. Aliás, além de passional. Passivo, alheio a tudo... ...se deixando ficar, se sentindo entorpecido pelo pesadelo... Palavras fortes.
ResponderExcluirValeu!
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