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terça-feira, 13 de outubro de 2015

A Necessidade de Pensamento Crítico

Quando você fala alguma coisa, você não está dizendo apenas aquilo que você está, efetivamente, dizendo. Há uma mensagem secundária sendo passada. Isso ocorre, principalmente, quando você é voluntário ao falar, quando fala por livre e espontânea vontade. E essa segunda coisa é sobre você. Você entrega uma parte de quem é em tudo que diz. Por que o que é dito, a pessoa que diz achou que era importante ser dito. Importante ser colocado no mundo. Importante o bastante pra ser posto em palavras. Como essa postagem. Ela diz várias coisas sobre que tipo de pessoa eu sou. Só que a maioria das pessoas ignora esse detalhe e vários outros. Falta um pouco de senso crítico no Brasil. E não só nesse ínfimo exemplo que eu dei.

Eu tenho a impressão de que qualquer informação à qual um brasileiro tenha acesso tem credibilidade automática. Essa parece ser, inclusive, uma das primeiras coisas que a faculdade tenta expurgar da mente dos alunos. Uma pena que a maior parte da população brasileira não chega à faculdade. O brasileiro, e eu só posso falar dele pois desconheço o resto do mundo (mas não parece ser assim em regiões mais desenvolvidas), o brasileiro lê, curte, compartilha e expressa opiniões em postagens no facebook baseando-se apenas no que está escrito no post, concordando ou discordando, mas sem nem pensar que aquilo pode não ser verdade, ou pode não ser tão verdade quanto parece. Um grande exemplo é a respeito do auxílio-reclusão, grandemente exagerado em posts no facebook.

O mais interessante, entretanto, é como as pessoas criticam. Elas criticam sem crítica. Apenas pegam uma opinião pronta, um discurso formado, e o despejam em palavras e frases que se tornam clichés de tão repetidas que são. E é quase sempre um discurso de ódio. Não existe meio-termo na internet. Não existem minucias, nuances. Por que é mais fácil absorver e entender coisas absolutas, preto-e-branco e não cinza. É uma preguiça crônica. Mas a realidade não corresponde a pensamentos simplistas, desprovidos de racionalização. E a internet é também o lugar das falácias. Muitas vezes eu vejo um ataque ao mensageiro ao invés de um bom argumento. As pessoas ofendem umas às outras de idiotas, simplesmente por não terem o mesmo ponto de vista. É uma demonstração sem tamanho de arrogância. Dificilmente alguém vai mudar de opinião. Os argumentos não importam. É a própria definição de fundamentalismo.
Isso é fruto da sensação de anonimato? Sim, mas não é só isso. A internet é ampla. Pode-se encontrar grandes quantidades de qualquer tipo de pessoa nela. Ela acomoda todos os grupos democraticamente. Então qualquer opinião que você tenha, você vai encontrar apoio e oposição na internet. Mais do que isso, muito apoio e muita oposição. E é bem fácil e realmente acontece de as pessoas se deixarem levar por esse apoio, superestimando suas próprias opiniões só por que elas foram aceitas por algumas pessoas.
E é normal também que quando você tem uma opinião sua atacada, você arrola argumentos para defendê-la e você fica tendo cada vez mais e mais certeza de ser a opinião certa. Mas na internet as pessoas não tem o senso crítico de distinguir um argumento racional e válido de um que é falho.
O senso crítico é isso. É não aceitar tudo como verdade irrefutável. É pensar a respeito de tudo. Pensar antes de aceitar (ou não aceitar). E ir além, pensar nos porquês. Por quê aquela pessoa está dizendo o que está dizendo? O que ela ganha com isso, como ela se auto-reafirma dizendo isso? Como isso a afeta? Quem é essa pessoa que está dizendo isso? Qual é a razão para ela estar falando isso, o que ela espera alcançar? E não só com relação às opiniões divergentes. Eu aprendo muito com opiniões divergentes, e já mudei minha opinião algumas vezes por causa delas. Você pode aprender mais, inclusive, com as opiniões diferentes, por que como elas estão vindo de um lugar e de um raciocínio diferente do seu, elas vão pensar em coisas que você não pensou e/ou por um ângulo que não te passou pela cabeça. Elas vão estar vindo de uma ideologia diferente. Mas quem quer discutir na internet geralmente tem uma opinião não apenas formada como cristalizada, marcada em pedra, imutável. Uma barreira que as impede de ver o mundo; são bitolados, ignoram a opinião alheia e os fatos. E geralmente essa opinião não é leve, é pesada, uma substituição de personalidade, como se fosse uma obrigação ter uma opinião forte sobre tudo.

Mas talvez grande parte da culpa seja do nosso sistema educacional defasado. Que cria as pessoas para não ter esse senso crítico. Para acreditar em tudo que os professores falam, tudo que os pais falam, tudo que as autoridades falam. Apelo à autoridade é muito usado na web, como se só por que uma pessoa é autoridade máxima expert em algum assunto, ela nunca vai errar, todas as opiniões dela sobre aquele assunto são mais corretas do que todas as opiniões de quaisquer outras pessoas sobre aquele assunto. Quando, na verdade, os experts também são humanos, e também podem estar errados. Inclusive alguém que não entende nada de algo pode falar algo realmente insidioso sobre aquele algo, até mais do que o expert. A única diferença é que há maior probabilidade de um expert estar certo sobre seu ramo de conhecimento do que um leigo. mas o que realmente faz uma opinião ser válida ou não, não é a história pregressa de seu defensor, mas os fatos e fundamentos racionais por trás dela. 

Quando você fala, você exprime uma ideia. O mundo está cheio de ideias. Pensamentos. Modos de pensar. Opiniões. E essas ideias, elas não simplesmente existem imateriais no mundo. Elas moldam ações e comportamentos e geram movimento. Por isso é inocente acreditar que pensamentos são tão imateriais e abstratos que não têm poder de gerar nada. E nós, brasileiros, precisamos analisar um pouco mais.

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