Moro em solo que é consagrado
Ao demônio e à danação
Vendi a alma por viver
Distribuí flores e fiquei com os espinhos
E o que era um jardim é um cemitério
Não era pra ser assim, não era pra ser o fim
Mas o que eram árvores hoje é carvão
Amargor de lembranças que seca a boca
Sombras familiares feitas de esperança
O passado venenoso me cobre, rodeia, penetra
Melhores pastagens tiraram tudo de mim
Sobrou pra mim ser quem guarda o vazio
Em volta vejo o vácuo do que era bonito
Onde minha esperança foi destronada
Meu próprio reino feito de amargor e ternura
Todos podem agora me esquecer aqui
Eles que não veem o proprio passado
Enquanto meu olhar foge do que tortura
Mas não há fuga, só o fulgor do que mata
Rodeado sou por tudo que devia ter sido
E esfaqueado sorrateiramente dia após dia
Tento ser cego e não ver o que perdi
Surdo e não ouvir o que não está mais aqui
Tentado pela realidade serena a me provocar
Sou meu próprio refúgio nos dias correntes
Escondido atrás do que se esconde na mente
Enquanto tento tolerar minha punição injusta