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sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Meu Reino

 Moro em solo que é consagrado

Ao demônio e à danação

Vendi a alma por viver


Distribuí flores e fiquei com os espinhos

E o que era um jardim é um cemitério 

Não era pra ser assim, não era pra ser o fim


Mas o que eram árvores hoje é carvão 

Amargor de lembranças que seca a boca

Sombras familiares feitas de esperança 


O passado venenoso me cobre, rodeia, penetra

Melhores pastagens tiraram tudo de mim

Sobrou pra mim ser quem guarda o vazio


Em volta vejo o vácuo do que era bonito

Onde minha esperança foi destronada

Meu próprio reino feito de amargor e ternura


Todos podem agora me esquecer aqui

Eles que não veem o proprio passado

Enquanto meu olhar foge do que tortura


Mas não há fuga, só o fulgor do que mata

Rodeado sou por tudo que devia ter sido

E esfaqueado sorrateiramente dia após dia


Tento ser cego e não ver o que perdi

Surdo e não ouvir o que não está mais aqui

Tentado pela realidade serena a me provocar


Sou meu próprio refúgio nos dias correntes 

Escondido atrás do que se esconde na mente

Enquanto tento tolerar minha punição injusta

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